terça-feira, 3 de maio de 2016

Relatos Incompreensíveis ou não de um Lixo Orgânico

Relatos Incompreensíveis ou não de um Lixo Orgânico

      Intervalo deles de novo. Prefiro quando é o dos outros. Digo, se eu pudesse ter alguma preferência; se pudesse dizer, e se referir a esse pedaço preto de plástico vazo, que abre e fecha, como “eu”.
      Mas vamos supor que “eu” possa sentir, e ser mais. Mais do que um pedaço preto de plástico vazo, que abre e fecha. Tenho um pedal também. As pessoas pisam nele, e abrem a minha tampa, para jogar o resto de seus alimentos dentro de mim.
      Ah, não, desculpe. Eu tinha um pedal. Alguém quebrou ele ; já faz um tempo. Ou não. Afinal, oque é tempo? Para aquelas criaturas que andam por aqui, tempo é horas, dias, semanas, meses. Seu disso por que alguém jogou uma agenda velha em mim. Tive vontade de gritar: “Isso não é orgânico, animal!!” Mas não deu certo. Primeiro, por que não tenho boca, nem voz. Segundo, por que não tenho vontade própria, Acho que isso é a pior coisa em ser um lixo orgânico: não ter vontade própria.
     Na verdade, nem sei se sou realmente um “lixo orgânico”, só falo isso por que é oque está escrito, em branco, na minha frente; e como alguns humanos me chamam. Acho melhor acreditar nisso mesmo, se não vou ficar muito confuso. Afinal, oque seria de mim se não acreditasse que sou algo?
      Quando digo “intervalo deles”, me refiro aos humanos menores. Alguns pequenos demais, e que outros chamam de “projeto de gente”.
      Não entendo isso; Essa história de crescer. Fui fabricado, e já vim ao mundo com esse tamanho, essa forma, esse jeito. Pouco depois, mal tive tempo de descobrir onde estava, vim para cá. Para essa... qual é o nome mesmo? Escola?
      Desde que me trouxeram para cá, acompanhei o “crescimento” de muitas pessoas. Alguns me tratam muito bem; Me abrem cuidadosamente e jogam apenas os restos de alimentos em mim. E tem aqueles brutos, que não sei como se chamam de seres humanos, que me abrem colocando toda sua raiva, e jogam qualquer coisa em mim. As vezes, até dão-me ponta-pés. É simplesmente incompreensível.
      De manhã, tinha um menino que jogava cascas de maçã dentro de mim. Era meu perfume matinal. Acho que o menino se chama Cauê, mas não sei, pode ser só impressão.
      Vi esse menino crescendo, e virando homem. Desde pequeno, ele nunca se esqueceu de me dar meu perfume matinal sabor cascas maçã; Mas “pessoas vem, pessoas vão”, e o menino virou “homem feito”, e foi. Se pudesse amar, teria amado muito Cauê.
      Quando ele se foi, queria me despedir dele. Isso é, iria querer me despedir. Mas não deu certo. É, realmente. Não ter vontade própria é a pior coisa em ser um lixo orgânico.

Um comentário:

  1. (amei o titulo) haha, gostei muito, não é minha preferida porque né (luz da lua ever). mas eu gostei bastante, foi bem construida, o começo quando deixa claro ser um lixo parece ser sem graça, mas ai você acaba desenvolvendo, e conseguiu que ficasse bom.

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