Campos
ou Almeida?
O lugar exato, com
nome, número, coordenada, não importa. Foi em um hospital. Um
hospital normal, as paredes brancas, e várias portas, com plaquinhas
escritas em preto coisas como “Copa”, “Raio-X”, “Repouso de
Anestesia”, “Eletrocardiograma”, “Sala de Parto”, e
“Maternidade”.
“Sala de Parto”.
Foi onde Pricila de Almeida, com 38 anos, deu à luz a esse menino.
Nicolas nasceu às 20h57, por trás da porta branca com uma plaquinha
escrita em preto “Sala de Parto”. O menino, de 48 centímetros, o
rosto todo vermelho do choro e as pernas esperneando saiu para o
mundo com os olhos fechados. “Repouso”. Foi onde Pricila de
Almeida foi deixada, quando a enfermeira levou o menininho para o
berço da “Maternidade”.
“Sala de Parto”.
Foi onde Fátima Campos, com 36 anos, deu à luz a um outro menino.
Rafael nasceu às 21h01, por trás da porta branca com uma plaquinha
escrita em preto “Sala de Parto”. O menino, de 50 centímetros, as
bochechas vermelhas do choro, as pernas esperneando e os braços
agitados no ar, saiu para o mundo de olhos abertos. “Repouso”.
Foi onde Fátima Campos foi deixada, quando a enfermeira levou o
menininho para o berço da “Maternidade”.
“Maternidade”.
Foi onde a enfermeira colocou a pulseirinha de papel escrita “Pricila
de Almeida” em Rafael, e a escrita “Fátima Campos” em Nicolas
– pulseiras trocadas.
Assim, quando as mães
receberam os filhos nos braços, receberam o filho da outra. Pricila
de Almeida estranhou o menino, Rafael. A pele do seu filho era mais
clarinha, e os olhos mais escuros. “Esse não é meu filho” era
tudo o que ela pensava, e se culpava por isso, mas pediu para a
enfermeira ver se não havia algum engano. Fátima recebeu Nicolas
aos braços e não estranhou nada, não percebeu nenhuma diferença –
era seu filho.
Por isso, quando o
hospital entrou em contato, dois anos depois, com a notícia que
havia tido um engano (Pricila estava certa. Aquele não era seu
filho), não acreditou, e não acreditaria até fazer um teste de
DNA.
Papeis pra lá,
assinaturas pra cá... foi feito o tal teste. Com as duas mães, e as
duas crianças. Fátima então, cinco dias depois, quando os
resultados saíram, ficou espantasíssima com a nova criança
colocada em seus braços – seu filho biológico.
Pricíla foi com
Nicolas, que fora chamado de Rafael até agora para casa, e Fátima
com Rafael, chamado de Nicolas.
Pricíla queria ver o
outro menino que se apegara tanto, mas não abriria mão de jeito
nenhum de seu filho biológico. Fátima não conseguia se acostumar
com a ideia de aquele garoto ser seu filho, e o menino não aceitava
a estranha também.
Mais papéis para
lá... mais assinaturas pra cá... o martelo bateu, e Pricila
ficaria com os dois garotos.
Hoje, 8 anos depois,
Rafael Campos, que veio para o mundo de olhos abertos, e fora dois
anos chamado de Nicolas de Almeida, e Nicolas de Almeida, que veio
para o mundo de olhos fechados, e fora dois anos chamado de Rafael
Campos, moram com Pricila de Almeida em uma casinha aconchegante em
uma rua ali do centro, os dois carregando o sobrenome “de Almeida”
“São os irmãos mais inseparáveis que já vi” diz a mãe, Pricila de Almeida.
“São os irmãos mais inseparáveis que já vi” diz a mãe, Pricila de Almeida.
juro, essa crônica parece uma historia que ja vi por ai, mas não to recordando... mas enfim... gostei da ideia, e da forma da leitura, gostei muito da discrição do hospital
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