sexta-feira, 15 de abril de 2016

Campos ou Almeida?

Campos ou Almeida?


     O lugar exato, com nome, número, coordenada, não importa. Foi em um hospital. Um hospital normal, as paredes brancas, e várias portas, com plaquinhas escritas em preto coisas como “Copa”, “Raio-X”, “Repouso de Anestesia”, “Eletrocardiograma”, “Sala de Parto”, e “Maternidade”.
     “Sala de Parto”. Foi onde Pricila de Almeida, com 38 anos, deu à luz a esse menino. Nicolas nasceu às 20h57, por trás da porta branca com uma plaquinha escrita em preto “Sala de Parto”. O menino, de 48 centímetros, o rosto todo vermelho do choro e as pernas esperneando saiu para o mundo com os olhos fechados. “Repouso”. Foi onde Pricila de Almeida foi deixada, quando a enfermeira levou o menininho para o berço da “Maternidade”.
     “Sala de Parto”. Foi onde Fátima Campos, com 36 anos, deu à luz a um outro menino. Rafael nasceu às 21h01, por trás da porta branca com uma plaquinha escrita em preto “Sala de Parto”. O menino, de 50 centímetros, as bochechas vermelhas do choro, as pernas esperneando e os braços agitados no ar, saiu para o mundo de olhos abertos. “Repouso”. Foi onde Fátima Campos foi deixada, quando a enfermeira levou o menininho para o berço da “Maternidade”.
     “Maternidade”. Foi onde a enfermeira colocou a pulseirinha de papel escrita “Pricila de Almeida” em Rafael, e a escrita “Fátima Campos” em Nicolas – pulseiras trocadas.
     Assim, quando as mães receberam os filhos nos braços, receberam o filho da outra. Pricila de Almeida estranhou o menino, Rafael. A pele do seu filho era mais clarinha, e os olhos mais escuros. “Esse não é meu filho” era tudo o que ela pensava, e se culpava por isso, mas pediu para a enfermeira ver se não havia algum engano. Fátima recebeu Nicolas aos braços e não estranhou nada, não percebeu nenhuma diferença – era seu filho.
     Por isso, quando o hospital entrou em contato, dois anos depois, com a notícia que havia tido um engano (Pricila estava certa. Aquele não era seu filho), não acreditou, e não acreditaria até fazer um teste de DNA.
     Papeis pra lá, assinaturas pra cá... foi feito o tal teste. Com as duas mães, e as duas crianças. Fátima então, cinco dias depois, quando os resultados saíram, ficou espantasíssima com a nova criança colocada em seus braços – seu filho biológico.
     Pricíla foi com Nicolas, que fora chamado de Rafael até agora para casa, e Fátima com Rafael, chamado de Nicolas.
     Pricíla queria ver o outro menino que se apegara tanto, mas não abriria mão de jeito nenhum de seu filho biológico. Fátima não conseguia se acostumar com a ideia de aquele garoto ser seu filho, e o menino não aceitava a estranha também.
    Mais papéis para lá... mais assinaturas pra cá... o martelo bateu, e Pricila ficaria com os dois garotos.
     Hoje, 8 anos depois, Rafael Campos, que veio para o mundo de olhos abertos, e fora dois anos chamado de Nicolas de Almeida, e Nicolas de Almeida, que veio para o mundo de olhos fechados, e fora dois anos chamado de Rafael Campos, moram com Pricila de Almeida em uma casinha aconchegante em uma rua ali do centro, os dois carregando o sobrenome “de Almeida”
     “São os irmãos mais inseparáveis que já vi” diz a mãe, Pricila de Almeida.

Um comentário:

  1. juro, essa crônica parece uma historia que ja vi por ai, mas não to recordando... mas enfim... gostei da ideia, e da forma da leitura, gostei muito da discrição do hospital



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