Ingenuidade
de Criança
Vi um
menino na rua. Ele deveria ser um pouco mais velho que eu. Uns 7 anos
talvez. Não sei.
Era bem
magro, e tinha a pele morena e meio suja de preto em alguns lugares,
como poeira, ou algo do tipo. Usava uma camiseta branca amassada e
manchada em vários lugares, e bermuda azul com um rasgo no joelho, e
desgastada nas barras.
Quando o
sinal ficou vermelho e a mamãe teve que parar o carro, o menino foi
lá na frente e ficou fazendo malabarismo com 4 bolas de tênis. Me
inclinei para o banco da frente pra ver ele melhor. Era muito legal!
As vezes ele fazia a bola ir no pescoço dele, e ai ela quicava, e
ele pegava de novo, não derrubou uma só bola uma única vez.
Perguntei
pra mamãe quem era esse menino, e se ele podia me ensinar a fazer
isso um outro dia, ou até hoje mais tarde, quando eu voltasse da
escola. Ela falou que achava que não daria, e que provavelmente eu
não iria mais ver esse menino de novo. Perguntei então se ela não
podia pegar o telefone da casa dele com a mãe dele, que nem faz com
os meus amigos na escola, mas ela falou que não, e perguntou se eu
estava vendo a mãe dele em algum lugar.
Comecei
a olhar em volta, e reparei que não mesmo. Onde a mãe do menino
estava? Fiquei procurando, e levei um susto quando o menino apareceu
na janela aberta da mamãe. Ela deu umas moedas pra ele, e perguntou
se eu tinha algum biscoito. Fiz que sim com a cabeça e peguei o mais
rápido que pude um pacotinho de biscoito de chocolate na minha
lancheira. “Mas tá meio amassado...” falei me debruçando por traz do banco da mamãe pra dar para o menino. Ele disse que não
tinha importância, e “Deus te abençoe” antes de sair da janela.
O sinal
abriu, e voltei a sentar no banco. Abri a janela de trás e gritei
pra ele “queria que você me ensinasse a fazer isso depois!! Foi
muito legal!!” Mas acho que ele não ouviu. Já estava comendo o
biscoito de chocolate que tinha dado pra ele, e deu um pedaço para
uma menina mais alta que ele. Então mamãe fez uma curva, e não
consegui mais ver os dois.
Fiquei meio triste, nem consegui falar com ele
direito. Perguntei pra mamãe por que ela tinha dado moedas pra ele,
e se ele trabalhava em algum circo. Ela disse que as moedas foram
para agradecer a ele por fazer malabarismo pra gente, mas que
provavelmente ele não trabalhava em nenhum circo. “Que pena”
falei “eu queria levar meus amigos para ver ele, e aí ele podia
ensinar para todos nós. Mas aquela coisa do pescoço só para mim,
por que eu sou o melhor amigo dele”.
Perguntei
pra mamãe o que ele quis dizer com “Deus te abençoe” e ela
falou que ele estava agradecendo pelo biscoito e pelas moedas, e que
ele desejava que Deus tornasse nossa vida boa. “Mas a nossa vida
já é boa” disse “bem, então ele desejou com bastante força”
mamãe falou.
Então a
gente chegou na escola. Mamãe estacionou o carro, e eu peguei minha
mochila e a lancheira. Dei um beijo na bochecha dela e falei “depois
ele me ensina a fazer aquele malabarismo legal!!” e fui correndo
para o portão da escola.
Ingênuo
eu era, não? Isso já faz 10 anos, e nunca mais eu vi aquele menino.
Nem aprendi a fazer malabarismo daquele jeito.
crônica de observação? gostei muito da ideia, acho bem construida e bem elaborada, da para entender o que a crônica diz, gostei bastante, (como sempre, bom uso de pontuação e uso de imagens)
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