terça-feira, 19 de abril de 2016

Ingenuidade de Criança

Ingenuidade de Criança

     Vi um menino na rua. Ele deveria ser um pouco mais velho que eu. Uns 7 anos talvez. Não sei.
Era bem magro, e tinha a pele morena e meio suja de preto em alguns lugares, como poeira, ou algo do tipo. Usava uma camiseta branca amassada e manchada em vários lugares, e bermuda azul com um rasgo no joelho, e desgastada nas barras.
     Quando o sinal ficou vermelho e a mamãe teve que parar o carro, o menino foi lá na frente e ficou fazendo malabarismo com 4 bolas de tênis. Me inclinei para o banco da frente pra ver ele melhor. Era muito legal! As vezes ele fazia a bola ir no pescoço dele, e ai ela quicava, e ele pegava de novo, não derrubou uma só bola uma única vez.
     Perguntei pra mamãe quem era esse menino, e se ele podia me ensinar a fazer isso um outro dia, ou até hoje mais tarde, quando eu voltasse da escola. Ela falou que achava que não daria, e que provavelmente eu não iria mais ver esse menino de novo. Perguntei então se ela não podia pegar o telefone da casa dele com a mãe dele, que nem faz com os meus amigos na escola, mas ela falou que não, e perguntou se eu estava vendo a mãe dele em algum lugar.
     Comecei a olhar em volta, e reparei que não mesmo. Onde a mãe do menino estava? Fiquei procurando, e levei um susto quando o menino apareceu na janela aberta da mamãe. Ela deu umas moedas pra ele, e perguntou se eu tinha algum biscoito. Fiz que sim com a cabeça e peguei o mais rápido que pude um pacotinho de biscoito de chocolate na minha lancheira. “Mas tá meio amassado...” falei me debruçando por traz do banco da mamãe pra dar para o menino. Ele disse que não tinha importância, e “Deus te abençoe” antes de sair da janela.
     O sinal abriu, e voltei a sentar no banco. Abri a janela de trás e gritei pra ele “queria que você me ensinasse a fazer isso depois!! Foi muito legal!!” Mas acho que ele não ouviu. Já estava comendo o biscoito de chocolate que tinha dado pra ele, e deu um pedaço para uma menina mais alta que ele. Então mamãe fez uma curva, e não consegui mais ver os dois.
     Fiquei meio triste, nem consegui falar com ele direito. Perguntei pra mamãe por que ela tinha dado moedas pra ele, e se ele trabalhava em algum circo. Ela disse que as moedas foram para agradecer a ele por fazer malabarismo pra gente, mas que provavelmente ele não trabalhava em nenhum circo. “Que pena” falei “eu queria levar meus amigos para ver ele, e aí ele podia ensinar para todos nós. Mas aquela coisa do pescoço só para mim, por que eu sou o melhor amigo dele”.
     Perguntei pra mamãe o que ele quis dizer com “Deus te abençoe” e ela falou que ele estava agradecendo pelo biscoito e pelas moedas, e que ele desejava que Deus tornasse nossa vida boa. “Mas a nossa vida já é boa” disse “bem, então ele desejou com bastante força” mamãe falou.
     Então a gente chegou na escola. Mamãe estacionou o carro, e eu peguei minha mochila e a lancheira. Dei um beijo na bochecha dela e falei “depois ele me ensina a fazer aquele malabarismo legal!!” e fui correndo para o portão da escola.

     Ingênuo eu era, não? Isso já faz 10 anos, e nunca mais eu vi aquele menino. Nem aprendi a fazer malabarismo daquele jeito.

Um comentário:

  1. crônica de observação? gostei muito da ideia, acho bem construida e bem elaborada, da para entender o que a crônica diz, gostei bastante, (como sempre, bom uso de pontuação e uso de imagens)

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